“Este é um estudo inovador que utiliza tecnologia subaquática de última geração para explorar regiões críticas da Antártica com detalhes sem precedentes”, afirma o oceanógrafo físico do British Antarctic Survey, Peter Davis, que não esteve envolvido na pesquisa. “Nunca antes fomos capazes de observar as interações gelo-oceano que ocorrem dentro de uma fenda basal em uma linha de aterramento da plataforma de gelo da Antártica em escalas espaciais tão finas.”
Icefin descobriu que as correntes oceânicas movem a água através da fenda, mas a dinâmica dentro dela gera mais movimento. Como a fenda tem 50 metros de altura, a pressão no seu topo é menor do que na abertura, na parte inferior. O ponto de congelamento da água do mar é mais profundo no oceano, então quanto mais você desce, mais fácil é o derretimento do gelo. Como resultado, a água do mar nesta fenda congela no topo, mas derrete na abertura.
O ciclo de derretimento e congelamento, por sua vez, movimenta a água. O derretimento do gelo produz água doce, que é menos densa que a água salgada, por isso sobe até o topo da fenda. Mas quando a água do mar congela no topo, ela despeja o sal, o que leva à ressurgência. Ao todo, isso cria rotatividade. “Você subiu devido ao derretimento e afundou devido ao congelamento, tudo dentro da pequena formação de 50 metros”, diz Washam.
É aqui que a topografia da superfície do gelo realmente importa. Se o gelo fosse plano, poderia acumular uma camada protetora de água fria. “Ele forma uma barreira entre o oceano relativamente mais quente e o gelo frio”, diz Alexander Robel, chefe do Grupo de Gelo e Clima na Georgia Tech, que estuda as geleiras da Antártica, mas não esteve envolvida na pesquisa. Se o gelo não se misturar com a água mais quente, ele resiste ao derretimento. “Ele simplesmente fica lá”, diz ele.
Mas, como o Icefin mostrou, a parte inferior da plataforma de gelo pode ter covinhas, como uma bola de golfe. “Quanto mais áspera for a interface, mais ela pode gerar turbulência quando a água flui sobre ela, e essa turbulência vai misturar a água”, diz Robel. Esta topografia irregular pode derreter mais rapidamente do que partes mais planas da barriga da plataforma de gelo.
Esta dinâmica não foi adequadamente representada nos modelos de derretimento dos glaciares antárcticos, o que pode ser a razão pela qual estão a derreter mais rapidamente do que os cientistas previam, diz Robel. “Tem havido uma série de ideias diferentes sobre o que poderia estar causando essa diferença, mas ter observações reais de uma geleira real nos permite dizer: ‘Bem, essa ideia está certa, e essa ideia está errada’, e pode ajude-nos a melhorar esses modelos”, diz Robel – tanto para explicar o que já está acontecendo quanto para prever mudanças futuras.