Os líderes do grupo de cinco nações conhecido como BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – iniciam uma cúpula de três dias em Joanesburgo na terça-feira, onde discutem a expansão do clube que ambiciona se tornar um alternativa geopolítica aos fóruns liderados pelo Ocidente, como o Grupo dos 7.
A mais recente reunião de líderes atraiu um nível de interesse internacional raramente visto desde que o grupo foi formado pela primeira vez, 14 anos atrás.
O líder chinês Xi Jinping desembarcou na África do Sul na manhã de segunda-feira. Ele realizou uma visita de estado com o presidente Cyril Ramaphosa em Pretória antes de viajar a Joanesburgo para a cúpula, de acordo com a mídia estatal chinesa. O primeiro-ministro Narendra Modi, da Índia, chegou a Joanesburgo à tarde, informou o Times of India.
O presidente Vladimir V. Putin da Rússia comparecerá virtualmente, para evitar um mandado de prisão internacional por crimes contra a humanidade cometidos durante a guerra na Ucrânia
Uma guerra comercial entre Pequim e Washington e a invasão russa da Ucrânia revigoraram o debate sobre se o bloco permanecerá uma aliança comercial frouxa ou se tornará uma nova coalizão internacional. Dezenas de países manifestaram interesse em aderir, incluindo Argentina, Nigéria, Irã, Belarus, Arábia Saudita e Indonésia. Os candidatos são tão diversos quanto o bloco BRICS, que representa 40% da população mundial e um quarto de sua economia.
A China, a maior economia do grupo, favorece a expansão para fortalecer sua própria influência, enquanto uma Rússia isolada precisa de novos aliados enquanto se prepara para uma guerra prolongada na Ucrânia. Índia e Brasil, com fortes alianças entre nações industrializadas, favorecem uma abordagem mais cautelosa. A África do Sul, a menor economia do grupo, está pressionando para ter mais membros africanos e convidou mais de 30 líderes africanos para participar da reunião deste ano.
Essas visões divergentes provavelmente se refletirão na outra questão-chave da cúpula, a chamada desdolarização. Espera-se que os países do BRICS discutam como diminuir sua dependência do dólar americano como moeda do comércio global, ao mesmo tempo em que equilibram as relações comerciais existentes. Mas o lento crescimento do banco de desenvolvimento do bloco, criado em 2015 como contraponto ao Banco Mundial, é um sinal de que o consenso não será fácil.
Os desafios diplomáticos que a África do Sul enfrentou durante a cúpula refletem os interesses geopolíticos que as nações do BRICS devem equilibrar – particularmente os países menores que precisam navegar em suas alianças com nações mais ricas e poderosas.
O Sr. Putin é procurado pelo Tribunal Penal Internacional, que o acusa de ser responsável pelo sequestro de crianças ucranianas e sua deportação para a Rússia. Ele planejava comparecer pessoalmente, mas poupou a África do Sul do dilema de prendê-lo ou não ao decidir comparecer virtualmente. Mesmo assim, a África do Sul continuou a enfrentar pressão de seus aliados ocidentais por causa de seus laços estreitos com o Kremlin.
Em uma demonstração de neutralidade, o presidente Cyril Ramaphosa pediu a devolução das crianças ucranianas sequestradas e o restabelecimento do acordo de grãos do Mar Negro, que permitiu à Ucrânia exportar grãos para o mundo, especialmente para países da África com escassez de alimentos.
“Resistimos à pressão para nos alinharmos com qualquer uma das potências globais ou com blocos influentes de nações”, disse ele em um discurso televisionado no domingo.