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Lei de Segurança Nacional de Hong Kong: O que saber

Por Humberto Marchezini


Uma lei de segurança há muito arquivada que outrora despertou o medo da erosão dos direitos e galvanizou o movimento pró-democracia de Hong Kong está a regressar. Os esforços para completar a legislação para proteger o Estado chinês entrarão na sua fase final na terça-feira, quando os legisladores se reunirão para retomar o debate sobre o projeto de lei e possivelmente votar para aprová-lo. Esta será uma vitória há muito esperada pelas autoridades, cuja tentativa de aprovar a lei em 2003 provocou as maiores manifestações que a antiga colónia britânica tinha visto desde que regressou ao domínio chinês.

Esses protestos tornaram-se uma tradição anual, atraindo dezenas de milhares de defensores da democracia e ajudando os partidos da oposição a angariar fundos. Isso só cessou depois de Pequim ter imposto uma lei de segurança nacional em 2020, silenciando a dissidência e eliminando muitos grupos activistas, incluindo aquele que coordenava a marcha anual. A aprovação da legislação não está em dúvida, uma vez que o governo tomou medidas anteriormente para garantir que apenas “patriotas” pudessem ser legisladores.

Qual é a nova lei de segurança?

A nova legislação local é conhecida como Artigo 23, que se refere à secção da miniconstituição de Hong Kong que exige que a cidade elabore a sua própria lei para proteger a segurança nacional. O líder da cidade anunciou em janeiro uma proposta para cumprir essa obrigação com uma nova lei chamada Portaria de Salvaguarda da Segurança Nacional. Procura criar novos crimes, como a insurreição e a interferência externa, e actualizar as leis da era colonial relativas à segurança do Estado.

Também procura expandir a definição de ideias-chave, como segredos de estado. As actuais leis que protegem essas informações dizem principalmente respeito a questões de defesa e inteligência, e não proíbem os funcionários do governo de revelar documentos confidenciais para pôr em perigo a segurança nacional – algo que a nova lei mudaria. Hong Kong está a expandir o termo para incluir informações relacionadas com o desenvolvimento económico e social da cidade, bem como importantes decisões políticas e tecnologia científica, reflectindo a linguagem da China continental sobre segredos de Estado. Pessoas e empresas que lidam com documentos confidenciais devem prestar atenção.

Porquê elaborar esta lei agora?

O Chefe do Executivo, John Lee, líder de Hong Kong, citou uma geopolítica cada vez mais complexa e ameaças crescentes de espionagem estrangeira para justificar a legislação. Uma nota de rodapé na proposta citava a criação pela CIA de um Centro de Missão na China para se concentrar no gigante asiático e comentários do chefe do MI6 do Reino Unido sobre o recrutamento de mais agentes para espionar a China. O documento também alega “interferência bárbara e grosseira” de governos estrangeiros e dá exemplos de políticos estrangeiros que ameaçaram impor sanções a autoridades municipais. Numa conferência de imprensa, Lee disse que a cidade não se pode dar ao luxo de atrasar: “Há 26 anos que esperamos”, disse ele, referindo-se ao número de anos desde a transferência de Hong Kong em 1997. As condições também estão maduras. A lei de segurança imposta pela China eliminou a dissidência, o que significa que Lee enfrentará pouca oposição.

E quanto à lei de segurança nacional existente?

Pequim impôs a lei de segurança nacional em Hong Kong em junho de 2020 em resposta à agitação antigovernamental do ano anterior. Essa lei continuará a existir e espera-se que funcione em conjunto com a nova legislação local proposta. A lei planeada, por exemplo, não tratará da secessão e da subversão, crimes já abrangidos pela Lei de Segurança Nacional. Um oficial folheto sobre a proposta disse que a nova lei deveria complementar e convergir com a imposta por Pequim.

Quais são as novas infrações?

O governo propôs vários novos crimes, incluindo:

Traição: A lei de traição existente pune qualquer pessoa que prejudique ou lance guerra contra “Sua Majestade” – linguagem que está claramente desatualizada. O novo crime incluirá o uso ou ameaça de força com a intenção de pôr em perigo a soberania nacional ou a integridade territorial. Isto também deveria se aplicar aos residentes que cometem atos de traição fora da cidade.

Insurreição: O governo afirma que Hong Kong precisa de um crime de “insurreição” para enfrentar eventos como os protestos em toda a cidade de 2019, que afirma que as leis existentes contra motins são inadequadas para lidar. O novo crime transformará a perturbação civil num crime de segurança nacional.

Sabotar: O vandalismo de infra-estruturas públicas e os danos às instalações de transporte com a intenção de pôr em perigo a segurança nacional seriam um crime nos termos da lei proposta. Atos digitais, como hackear os sistemas financeiros da cidade, devem ser considerados crimes mais graves. A proposta diz que as leis existentes sobre o uso abusivo de computadores não reflectem a gravidade de tais actos. O governo também procura abordar futuros riscos de segurança decorrentes da inteligência artificial.

Interferência externa: Colaborar com forças externas para influenciar a elaboração de políticas, a legislação e as eleições tornar-se-á um crime. A proposta diz que Hong Kong tem sido usado como “uma ponte para atividades anti-China” e enfatiza os riscos de forças estrangeiras prejudicarem a segurança nacional através de grupos não governamentais locais. O governo considerou criar um sistema para exigir o registo de agentes estrangeiros, tal como fazem os EUA, mas decidiu, em vez disso, criar um novo delito para lidar com a questão.

Qual é o prazo?

O Conselho Legislativo da cidade se reunirá em 19 de março para retomar a segunda leitura do projeto de lei em um processo legislativo acelerado. Os legisladores concluíram um exame minucioso cláusula por cláusula do projeto de lei de 212 páginas em 15 de março, depois que o projeto de lei foi publicado apenas uma semana antes, vários dias após o término do período de consulta pública de um mês.



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