“Acho que você pode imaginar que isso funcionará muito bem para a BYD, na verdade”, diz Ilaria Mazzocco, pesquisadora sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. “E também terão menos concorrência de outras montadoras chinesas.” A BYD é conhecida por sua capacidade de controlar custos de produçãopara que ainda possa vender seus carros a um preço relativamente baixo. No entanto, para outras marcas chinesas, as tarifas poderão significar que terão agora de fixar os seus preços mais elevados e competir frontalmente com os modelos europeus.
As montadoras chinesas não são as únicas afetadas. A Tesla, com metade dos seus carros fabricados na Gigafactory de Xangai, na China, receberá a tarifa mais baixa, de 7,8 por cento, depois de a empresa ter solicitado um ajustamento com base nos subsídios reais que recebe na China. Em contraste, a Volkswagen e outras marcas europeias que produzem automóveis na China poderão obter cerca de 21 por cento.
Uma forma de as marcas chinesas contornarem as tarifas é estabelecer fábricas na Europa e transferir a produção para cá, como o que a Volvo tem feito durante anos produzindo na Suécia, apesar de ter sido adquirida pela empresa chinesa Geely.
Tais decisões podem muito bem ser bem recebidas por alguns países europeus, uma vez que, em teoria, contribuiriam significativamente para o emprego local e para o crescimento económico verde. Na verdade, muitas empresas chinesas anunciaram planos para transferir parte da sua cadeia de abastecimento para países como Espanha, Hungria e Polónia, embora Mazzocco alerte que estes anúncios devem ser encarados com cautela até que as fábricas comecem realmente a produzir.
Soluções Alternativas
No entanto, apesar do resultado da votação, as tarifas aprovadas podem não ser definitivas. Na segunda-feira, um funcionário da Comissão Europeia disse que a comissão está disposta a continuar as negociações com a China mesmo após a votação tarifária. Se conseguirem chegar a acordo sobre outras soluções para a questão da concorrência desleal – por exemplo, a criação de quotas de importação ou um preço mínimo para os VE chineses – a tarifa poderá ser revista.
A China tem apresentou uma reclamação à Organização Mundial do Comércio sobre as tarifas da UE, e a OMC também poderia solicitar à UE que alterasse ou retirasse essas tarifas se as considerasse inaceitáveis.
“O que a comissão realmente quer fazer é dizer aos membros: ‘Olha, precisamos parecer sérios aqui. Podemos negociar mais tarde’”, afirma Alicia García-Herrero, economista-chefe para a Ásia-Pacífico do banco de investimento francês Natixis. Se os Estados-membros tivessem rejeitado as tarifas propostas pela Comissão, isso teria mostrado que a Europa está dividida e impotente face ao influxo de marcas chinesas. Mas agora que as tarifas foram aprovadas, a Europa tem mais poder para negociar um melhor acordo comercial com a China.
Nem todos os resultados alternativos teriam o mesmo impacto nas empresas chinesas. Por exemplo, a pior situação poderia ser uma cota de importação, diz García-Herrero. Obter lucro com as tarifas é um desafio, mas ainda é possível. “Mas uma quota reduziria o número de exportações, por isso não é do interesse da China”, diz ela.
Por outro lado, estabelecer um preço mínimo apenas para os VE importados pode não ser uma coisa má, afinal. Dá às montadoras uma margem de lucro maior e as força a competir com base em melhor qualidade e serviço. “Acho que as montadoras chinesas se sentem bastante confiantes quanto à sua qualidade”, diz Mazzocco. E pode até ser uma boa notícia para as marcas chinesas de veículos eléctricos que se concentram no mercado de automóveis de luxo de gama mais elevada, como a submarca Yangwang da BYD, que está a fabricar SUVs de luxo que podem atravessar lagos em emergências.