PARIS – Um centro internacional focado em abrir casos contra os principais líderes russos abriu na segunda-feira em Haia, no que os apoiadores descreveram como um primeiro passo em direção a um possível futuro tribunal para processar os crimes de guerra mais graves relacionados à invasão da Ucrânia pela Rússia.
Se estabelecido, tal tribunal seria projetado para lidar com o mais grave crime de guerra, o crime de agressão, que especialistas jurídicos dizem ser, por definição, um crime cometido pela liderança de um país que inicia uma guerra contra outro.
“É o único crime que vai para a mesa principal”, disse Philippe Sands, um proeminente advogado internacional que foi o primeiro a lançar a ideia de um tribunal de agressão.
Um tribunal especial preencheria uma lacuna no direito internacional. Embora o Tribunal Penal Internacional de Haia tenha mandato para processar a agressão, ele não tem jurisdição sobre o assunto, pois envolve a Rússia e a Ucrânia. Ao redigir a regra, vários países poderosos, incluindo os Estados Unidos, prevaleceram ao insistir que apenas os líderes dos Estados membros do TPI poderiam ser processados por agressão – e somente depois que o país tivesse concedido explicitamente a jurisdição do tribunal para esse crime. Nem a Rússia nem a Ucrânia são membros do tribunal.
Embora não esteja claro se um tribunal será criado, o novo centro, o Centro Internacional para a Acusação do Crime de Agressão, também visa servir como uma plataforma comum para coordenar as investigações, evitando a duplicação de tarefas e ajudando a organizar o trabalho de os muitos especialistas externos e equipes forenses que agora trabalham na Ucrânia.
Os investigadores, muitos da Europa Oriental, trabalharão para reunir dados e combinar evidências para ajudar a construir casos para uso em futuros julgamentos na Ucrânia e em tribunais internacionais.
O centro está sediado na Eurojust, sede da agência da União Europeia para a cooperação judicial, e recebeu um financiamento inicial de 9 milhões de dólares (8,3 milhões de euros) do bloco. Outros países, incluindo a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, também prometeram apoiar a iniciativa.
Desde que a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia começou há mais de 16 meses, diplomatas e advogados ocidentais vêm discutindo a necessidade de um tribunal internacional separado com poder para processar a Rússia pelo crime de agressão. A agressão é distinta dos crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio, pelos quais o TPI pode responsabilizar indivíduos.
Os defensores de um tribunal especial argumentam que a agressão é o crime principal do qual os outros emanam, e processar esse crime envolve mais diretamente os líderes políticos ou militares que decidem fazer a guerra. E, ao contrário de muitos casos de crimes de guerra, não haveria necessidade de vincular um oficial a crimes específicos no terreno, o que geralmente é um processo complicado.
Ainda assim, os governos que apóiam a ideia de um tribunal discordam sobre se ele deve ser formado pelas Nações Unidas ou se tornar um tribunal independente especializado focado na Ucrânia, com apoio internacional.
O promotor do Tribunal Penal Internacional de Haia está no meio de uma investigação de crimes contra a humanidade e crimes de guerra cometidos na Ucrânia. O tribunal emitiu mandados de prisão para o presidente Vladimir V. Putin da Rússia e outro alto funcionário russo pelo sequestro de crianças ucranianas durante o conflito. Mas o Kremlin negou ter cometido crimes e a probabilidade de um julgamento permanece pequena.
Tribunais sobrecarregados na Ucrânia já julgaram e condenaram alguns soldados russos por crimes de guerra, mas têm dezenas de milhares de casos aguardando.