O Supremo Tribunal do Brasil ordenou ao ex-presidente Jair Bolsonaro que explicasse por que passou duas noites na Embaixada da Hungria, e a Polícia Federal brasileira começou a investigar se a estadia em fevereiro violou ordens judiciais anteriores, disseram a polícia e funcionários judiciais.
As medidas do Supremo Tribunal e da Polícia Federal aumentam o risco legal crescente para o ex-líder do Brasil e seguem-se a uma investigação do New York Times publicada na segunda-feira que mostrou que Bolsonaro se escondeu na Embaixada da Hungria em Brasília dias depois de as autoridades confiscarem o seu passaporte porque ele estava sob investigação criminal.
A reportagem do Times, baseada em três dias de imagens das câmeras de segurança da embaixada, mostrou que o ex-presidente parecia estar buscando asilo político na Hungria, cujo primeiro-ministro é outro líder de extrema direita, Viktor Orban.
Após a reportagem do The Times, Bolsonaro confirmou que havia permanecido na embaixada, mas se recusou a dizer o motivo. “Tenho um círculo de amizade com alguns líderes mundiais” ele disse a um meio de comunicação brasileiro. “Eles estão preocupados.” Seu advogado emitiu então um comunicado dizendo que a permanência de Bolsonaro na embaixada foi apenas para falar de política e que “qualquer outra interpretação” era “apenas mais uma notícia falsa”.
Esse relato não foi suficiente para o juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que supervisionou uma série de investigações sobre Bolsonaro. Na noite de segunda-feira, Moraes deu ao ex-presidente 48 horas para explicar sua estadia na embaixada, segundo Mariana Oliveira, porta-voz do tribunal.
Em 8 de fevereiro, o juiz Moraes autorizou batidas e prisões de vários ex-assessores e ministros de Bolsonaro sob acusações de que eles haviam planejado um golpe depois que Bolsonaro perdeu as eleições de 2022. Como parte dessa operação, a justiça ordenou que Bolsonaro entregasse seu passaporte e não saísse do país enquanto a polícia investigava seu envolvimento.
A Polícia Federal brasileira está agora investigando se a permanência de Bolsonaro na Embaixada da Hungria violou essas ordens, de acordo com um policial federal que falou sob condição de anonimato para discutir o inquérito.
Alguns analistas jurídicos no Brasil disseram que o aparente pedido de asilo de Bolsonaro pode levar à sua prisão se as autoridades acreditarem que ele provavelmente enfrentará acusações criminais e poderá, no futuro, tentar escapar da detenção.
“A decisão de Bolsonaro de se esconder na embaixada é uma base clássica para prisão preventiva”, disse Augusto de Arruda Botelhoadvogado e ex-secretário nacional de Justiça do Brasil.
“É uma daquelas situações que servem de exemplo nos livros didáticos e nas salas de aula”, acrescentou.
Os juízes da Suprema Corte no Brasil têm amplo poder, e o juiz Moraes já agiu agressivamente contra Bolsonaro e seus aliados, dizendo que suas ações ameaçavam a democracia do país. Muitos brasileiros de direita, por sua vez, acusaram a justiça de abusar do seu poder.
Dois membros de esquerda do Congresso do Brasil disseram na segunda-feira que haviam entrado com pedidos formais ao Supremo Tribunal e ao procurador-geral, pedindo a prisão preventiva de Bolsonaro.
Bolsonaro é alvo de diversas investigações criminais. Em um caso, a Polícia Federal recomendou acusações criminais contra ele na semana passada, sob acusações de que ele havia participado de uma conspiração para falsificar seus registros de vacinação contra a Covid-19. Os promotores ainda não avaliaram esse caso.
Também houve consequências para os diplomatas húngaros no Brasil. O Itamaraty disse que convocou Miklos Halmai, embaixador da Hungria, para explicar a permanência de Bolsonaro na embaixada.
Em uma reunião de 20 minutos com autoridades brasileiras, Halmai deu a mesma explicação que o advogado de Bolsonaro – que o ex-presidente esteve na embaixada apenas para falar de política, segundo um funcionário do Itamaraty que falou sob condição de anonimato. para descrever uma reunião privada.
A autoridade disse que Maria Luisa Escorel, secretária do Brasil para a Europa e América do Norte, disse a Halmai que era altamente incomum receber um ex-presidente por várias noites em uma cidade onde ele também tem uma casa, especialmente porque ele está sob crime. investigação.
Paulo Motoryn contribuiu com reportagens de Brasília, e Leonardo Coelho do Rio de Janeiro.