Home Economia As temperaturas do oceano mantêm recordes quebrando – e surpreendem os cientistas

As temperaturas do oceano mantêm recordes quebrando – e surpreendem os cientistas

Por Humberto Marchezini


Então, o que está acontecendo aqui? Por um lado, os oceanos têm aquecido continuamente ao longo das décadas, absorvendo cerca de 90% do calor extra que os humanos adicionaram à atmosfera. “De certa forma, os oceanos são os nossos salvadores”, diz o oceanógrafo biológico Francisco Chavez, do Instituto de Pesquisa do Aquário da Baía de Monterey, na Califórnia. “As coisas podem ser muito piores em termos de impactos climáticos, porque muito desse calor não é apenas mantido na superfície, mas também levado para as profundezas.”

Uma grande preocupação com essas temperaturas superficiais quentes é a saúde dos ecossistemas que ali flutuam: o fitoplâncton que floresce absorvendo a energia do sol e o minúsculo zooplâncton que se alimenta deles. Se as temperaturas subirem demasiado, certas espécies poderão sofrer, abalando as bases da cadeia alimentar oceânica.

Porém, de forma mais sutil, quando a superfície aquece, ela cria uma camada de água quente, impedindo que os nutrientes das águas mais frias abaixo se misturem para cima. O fitoplâncton precisa desses nutrientes para crescer adequadamente e sequestrar carbono, mitigando assim as alterações climáticas. Se a estratificação induzida pelo aquecimento se agravar o suficiente, “não veremos o que chamaríamos de ‘florescimento da primavera’”, diz Dennis Hansell, oceanógrafo e biogeoquímico da Universidade de Miami. “Isso é muito mais difícil de acontecer se você não trazer nutrientes de volta à superfície para apoiar o crescimento dessas algas.”

Isso coloca séria pressão sobre um ecossistema que depende deste fitoplâncton. Para piorar a situação, quanto mais quente a água fica, menos oxigênio ela consegue reter. “Temos visto o crescimento destas zonas mínimas de oxigénio”, diz Hansell. “Os organismos que precisam de muito oxigénio não ficam muito satisfeitos quando as concentrações diminuem de alguma forma – pense num atum que gasta muita energia para correr na água.”

Além do plâncton lidar com temperaturas cada vez mais altas devido ao aquecimento global, há também uma variabilidade natural a considerar aqui. Recentemente, menos poeira tem sido soprada do deserto do Saara, por exemplo. Normalmente essa pluma chega às Américas, formando um guarda-chuva gigante que sombreia toda aquela água do Atlântico. Mas agora o guarda-chuva está parcialmente dobrado, permitindo que mais sol incida sobre o oceano.

Mais estranho ainda, outro factor que contribui para o aquecimento dos oceanos poderá ser a regulamentação de 2020, que reduziu drasticamente a quantidade de enxofre permitida nos combustíveis para transporte marítimo. “Basicamente da noite para o dia, a poluição por aerossóis foi reduzida em cerca de 75, 80 por cento”, diz Robert Rohde, cientista-chefe da Berkeley Earth, uma organização sem fins lucrativos que recolhe dados climáticos. “Isso foi bom para a saúde humana – a poluição do ar era tóxica.”

Cortesia da Universidade do Maine



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