Durante semanas, alguns 40 milhões de usuários brasileiros do X estão em dívida com os caprichos de Elon Musk e do governo do país. Em abril, o juiz do Supremo Tribunal Alexandre de Moraes abriu um inquérito sobre a rede social depois que Musk rejeitou uma ordem judicial que pedia à empresa que bloqueasse contas que apoiavam o ex-presidente de direita Jair Bolsonaro e supostamente espalhavam discurso de ódio e desinformação.
Em 30 de agosto, o tribunal superior do Brasil suspendeu X, dando aos provedores de serviços de Internet cinco dias para cumprir e fazendo com que contas de fãs enviassem sinalizadores alertando seus seguidores de que eles ficariam quietos.
Durante o apagão, diversas contas de fãs e outros brasileiros no X tentaram trazer seus seguidores para plataformas como Instagram, Threads e Bluesky, esta última vendo um salto de 2 milhões de usuários nos dias após a entrada em vigor do banimento, elevando seu total de usuários para cerca de 8 milhões. O Tumblr, há muito um centro de atividades de fãs, também teve um aumento de 350% no número de usuários, de acordo com um relatório no TechCrunch. Mas muitos usuários acharam difícil reconstruir os seguidores que tinham no X.
“É inegável que, para muitas empresas, a suspensão do X afetou a forma como se comunicam com os clientes”, afirma o jornalista brasileiro Raphael Tsavkko Garcia. (Seu trabalho apareceu na WIRED.) “O mesmo vale para artistas e influenciadores que viram uma importante plataforma de promoção desaparecer da noite para o dia.”
Aqueles que não conseguiram transferir todos os seus seguidores do X para outras plataformas ainda prometeram manter as novas contas para as quais migraram. Izadora Vasconcelos, que está por trás Miley CyrusBrasiluma conta com mais de 93 mil seguidores, diz que “enquanto X estiver sob o comando de um empresário que pensa ser maior do que as leis de um país”, ela e os outros administradores da conta “manterão Bluesky e X, pelo menos por um enquanto. Portanto, não precisamos começar do zero novamente.”
Enquanto a plataforma estava fora do ar, os fãs também perderam acesso aos seus arquivos e a todo o trabalho que dedicaram à curadoria deles, observa Driessen, acumulando na memória “peças valiosas da história da cultura pop” no processo. Mesmo as contas que conseguiram continuar postando esporadicamente ainda não estão disponíveis para fãs do país que desejam navegar por suas postagens antigas.
Em 18 de setembro, quando X reencaminhou brevemente o tráfego da Internet para contornar os bloqueios de estradas do Brasil, os fãs se alegraram. “Eu sei que é apenas um aplicativo bobo, mas é onde eu (me sinto) seguro,” escreveu Thaís Garcia, a pessoa por trás a conta da Taylor Swift @thalovestay. “Não estou bem mentalmente, e a semana passada foi horrível sem ter aqui para me distrair.”
O adiamento durou pouco, mas em 20 de setembro os advogados de X disse ao Supremo Tribunal eles encontraram um representante legal para o Brasil, um passo para reativar a plataforma no país. A empresa é agora supostamente atendendo a algumas das outras solicitações do Brasil na esperança de que a proibição do X seja suspensa, talvez já na próxima semana.
Quando isso acontecer, e parece que acontecerá, os stans brasileiros e seus seguidores internacionais poderão acessar toda a amplitude das comunidades que construíram na plataforma de Musk – mesmo aqueles que já seguiram em frente.
Amaral observa que, como muitas das contas de fãs estão vinculadas a artistas mais progressistas, alguns deles podem relutar em retornar ao X devido à falta de moderação. “Sabemos que para muitos fandoms, fazer parte de uma minoria (seja em termos de género, raça, etc.) é um aspecto fundamental da sua identidade”, acrescenta. Há uma relação simbiótica entre política e cultura pop, e “depois desse tipo de Ragnarok para contas/cultura de fãs brasileiras”, diz Amaral, muitas das pessoas por trás das contas terão que considerar se querem retornar.
Mesmo antes da suspensão de X, os administradores de Beyoncé Brasil já vinham trabalhando na revisão e construção o site deles. Tem sido bom ter algo “100% nosso”, diz Silveira. “Eu diria que (a conta X é) como um álbum de fotos: é bom revisitá-lo, mas não morreremos se não o tivermos.”
Gabriel Leão contribuiu com reportagem de São Paulo.