Num sinal de tensões persistentes entre os produtores de petróleo, Angola disse quinta-feira que o país deixaria a OPEP. A decisão foi tomada numa reunião de gabinete presidida pelo Presidente João Lourenço, a estatal Jornal de Angola relatado.
O anúncio de Angola não foi surpreendente. Os líderes do país têm estado em fúria desde que a Arábia Saudita, o líder de facto da OPEP, orquestrou uma medida em Junho passado para reduzir as quotas de produção de petróleo de Angola, Nigéria e outros países, ao mesmo tempo que aumentava o limite máximo para os Emirados Árabes Unidos.
“Angola nunca se reconciliou com o acordo que permitiu aos EAU aumentar até 2024 às custas dos produtores africanos com baixo desempenho”, disse Helima Croft, chefe de commodities globais da RBC Capital Markets, uma empresa de pesquisa, por e-mail. A Sra. Croft disse que Angola tem sido “um dos membros mais temperamentais, tendo realizado várias greves em reuniões nos últimos anos”.
A decisão de Angola de sair da OPEP é uma indicação de como a actual dinâmica da indústria petrolífera está a pressionar alguns produtores. Outrora um dos países petrolíferos mais promissores, a produção de Angola caiu quase 40 por cento nos últimos oito anos, à medida que as empresas petrolíferas internacionais que apertavam os cintos já não consideravam o país um destino atraente para investimento, dado o envelhecimento dos seus campos petrolíferos. A produção da Nigéria caiu por razões semelhantes.
Quando o ministro do petróleo saudita, o príncipe Abdulaziz bin Salman, pressionou estes países, em Junho, para que aceitassem quotas mais baixas, estava a tentar alinhar os limites máximos com os capacidade real de produção. Do ponto de vista de Angola, porém, um limite máximo mais baixo dissuadiria o investimento que o Sr. Lourenço tem tentado atrair e, portanto, não fazia sentido permanecer no cartel.
“Percebemos que neste momento Angola não ganha nada mantendo-se na organização”, disse Diamantino de Azevedo, ministro dos Minerais de Angola.
Os sauditas tentaram apaziguar Angola e outros produtores africanos, concordando em contratar consultores para rever as suas capacidades de produção. Os resultados, anunciados após a reunião mais recente da OPEP, em Novembro, produziram uma quota ainda mais baixa de 1,11 milhões de barris por dia para Angola, um corte de aproximadamente 25 por cento em relação à sua quota anterior. As autoridades angolanas disseram na altura que iriam ignorar o limite máximo.
A Nigéria, que recebeu um ajustamento ascendente em Novembro, parece provável que permaneça no grupo, dizem os analistas. A Opep não fez comentários imediatos na quinta-feira. A notícia da saída de Angola, que eleva para 12 o número de países da OPEP, fez com que os preços do petróleo caíssem 2 por cento antes de recuperarem.
Embora os analistas afirmem que é pouco provável que o anúncio prenuncie qualquer ruptura imediata do grupo, a saída de Angola realça a tarefa nada invejável que os sauditas escolheram para si próprios.
A produção fora da OPEP, especialmente a dos Estados Unidos, está a aumentar, mas os sauditas estão a tentar apoiar os preços do petróleo com o que parece ser uma série interminável de restrições à produção. Na reunião de Novembro, um grupo de países, incluindo o Iraque, os Emirados Árabes Unidos e o Kuwait, concordaram com novos cortes. Nos países onde as receitas do petróleo são essenciais para os orçamentos governamentais, poderá surgir mais frustração com os cortes da OPEP.
“A saída de Angola reflecte o descontentamento de outros membros do grupo relativamente ao cumprimento de uma quota que consideram restringir o seu crescimento”, disse Robert McNally, fundador do Rapidan Energy Group, uma empresa de investigação.
Gilberto Neto contribuiu com reportagens de Luanda, Angola.