Qual a diferença entre a internet da Rússia antes e depois da invasão da Ucrânia? A resposta: um aumento de trinta vezes na censura.
Essa foi a descoberta de um relatório publicado na quarta-feira pelo Citizen Lab, um grupo da Universidade de Toronto que estuda a censura online em países autoritários. O novo relatório foi uma das primeiras tentativas de quantificar a extensão da censura russa na internet desde o início da guerra em fevereiro de 2022.
Para compilar suas descobertas, o Citizen Lab analisou mais de 300 ordens judiciais do governo russo contra o Vkontakte, um dos maiores sites de mídia social do país, exigindo que ele removesse contas, postagens, vídeos e outros conteúdos. Antes da guerra, o governo da Rússia emitia ordens de remoção da Internet para Vkontakte, conhecido como VK, uma vez a cada 50 dias, em média. Depois que o conflito começou, esse número saltou para quase uma vez por dia, de acordo com o Citizen Lab.
Freqüentemente, as ordens judiciais se concentravam em fazer com que VK removesse notícias de sites de mídia independentes, bem como postagens e contas que expressavam oposição ao presidente russo Vladimir V. Putin ou à guerra. O governo também usou o bloqueio de palavras-chave para censurar termos lésbicos, gays, bissexuais, transgêneros e queer no site, disse o relatório.
“Essas descobertas sugerem a extrema sensibilidade política da guerra da Ucrânia na Rússia e a necessidade da Rússia de controlar rigidamente o acesso dos russos às informações sobre a invasão”, disse Jeffrey Knockel, um dos autores do relatório.
Os limites do VK fazem parte de um esforço mais amplo das autoridades russas para usar a tecnologia para moldar a opinião pública e reprimir a dissidência. Essa campanha também inclui um sistema mais amplo de censura na Internet, uma blitz de propaganda e a implantação de ferramentas de vigilância digital para rastrear os telefones celulares e as atividades online das pessoas.
Desde o início da guerra, a Rússia também bloqueou o acesso a alguns sites internacionais, incluindo Facebook, Instagram e Twitter. Para contornar as proibições, muitos na Rússia passaram a usar redes privadas virtuais, ou VPNs, que são ferramentas que contornam esses controles.
Apesar da determinação de Putin de limitar o que pode ser dito online, a burocracia da Rússia não teve muito sucesso em responder a eventos em tempo real. Quando Yevgeny V. Prigozhin, líder do mercenário Grupo Wagner, se voltou contra o Kremlin no mês passado, os censores da Rússia bloquearam parte do conteúdo relacionado ao motim – como o nome de Prigozhin e o do Grupo Wagner -, mas se mostraram ineficazes em interromper a discussão generalizada e até artigos da mídia sobre o que havia acontecido.
Plataformas como Telegram e YouTube permanecem disponíveis na Rússia e são fontes de informação amplamente utilizadas.
No relatório, os pesquisadores do Citizen Lab também compararam o conteúdo do VK que estava disponível no Canadá, onde o site é menos restrito, com o que não era visível para os usuários da Internet na Rússia. O Citizen Lab encontrou evidências de contas pessoais, vídeos e grupos comunitários bloqueados para usuários russos, muitos deles relacionados à guerra.
Os expurgos de conteúdo online da Rússia são pequenos em comparação com os de outros países autoritários, como China e Irã. No entanto, as técnicas que os países usam são semelhantes.
A principal maneira pela qual os censores russos cortaram o conteúdo do VK foi bloqueando a comunidade e contas pessoais no site. Mas as autoridades russas também empregaram outras técnicas comuns na China, incluindo medidas para impedir que os usuários pesquisem palavras específicas no site.